Demorei um pouco pra assistir o tal "O Maior Brasileiro de Todos os Tempos". Demorei um cadinho mais para entendê-lo.
Nada á acrescentar quanto ao formato um tanto "brega" que o SBT deu ao programa e seu cenário (afinal é o SBT).
Nada á declarar também com relação aos números musicais de Amado Batista e Ana Paula Valadão (quem?). No minimo, de gosto duvidoso.
Acho porém que este programa tem, antes de tudo, muito á dizer quanto a nossa "auto-imagem" enquanto brasileiros.
Talvez boa parte das pessoas não saiba que esta atração nasceu na verdade na Inglaterra. Lá o "100 Greatest Britons" foi exibido á dez anos atrás, sendo posteriormente exportado para outros países. Em 2006, foi a vez de nossos patrícios portugueses votaram nos "Grandes Portugueses".
Em cada novo país, uma nova polêmica. Nada mais natural.
Em primeiro lugar porque qualquer tipo de ranking é polêmico. Por um lado, pelos nomes que não estão lá; por outro, pela ordem dos nomes que estão. Ademais, é de se esperar que numa lista de preferências tão extensa seja praticamente impossível que as pessoas elenquem os mesmos nomes, na mesma ordem.
No Brasil, pelo menos num primeiro momento, a polêmica parece estar mais centrada na qualidade dos nomes que compõe a lista do que propriamente na ausência de personalidades importantes que poderiam ser lembradas.
Seria este o sinal de que?
Quando olhamos a lista britânica, por exemplo, composta por reis e rainhas, recheada por nomes como Charles Darwin, Isaac Newton e William Shakespeare; ficamos propensos á pensar que nosso ceticismo quanto ao "bom gosto" do brasileiro tem lá sua razão ser. Já quando olhamos a lista portuguesa e encontramos o técnico de futebol José Mourinho afrente de Pedro Alvares Cabral e dos escritores José Saramago e Eça de Queiroz, suspeitamos que nossos anacronismos vêm de berço.
Mas será que os nomes da lista brasileira são assim tão ruins?
Entrar no debate sobre a "qualidade" seria mergulhar na mesma polêmica rasa. Talvez fosse melhor encarar o programa como um pequeno "retrato" do Brasil e de como pensam os brasileiros.
Os variados nomes ligados ao mundo evangélico retratam sem dúvida um país cada vez menos católico, mas religioso sobretudo. Os dez nomes ligados ao futebol falam sobre o óbvio: a paixão do brasileiro pelo esporte. Os nomes de algumas celebridades, atores e atrizes talvez sinalize para uma certa dificuldade que temos em diferenciar "o mais importante de todos os tempos" do "mais famoso de hoje". Nada crônico e/ou muito diferente do já observado lá fora. Um "vício" esperado quando se trata de votações populares (ainda mais na internet).
Acima de tudo, penso que ao observar a polêmica e a repercussão á respeito dos nomes e da lista fica muito claro um outro traço cultural genuinamente nacional: o famoso complexo de vira-lata. Não só pela pouca valorização de nomes importantes que estão na lista, mas também por não reconhecermos que em todas as votações pelo mundo se produziram "absurdos"; de forma que o "mau gosto" não é, de jeito algum, uma reserva de mercado tupiniquim.
Seria absurdo comparar o Padre Landell de Moura (pioneiro em transmitir a voz humana por rádio com sucesso) á outros inventores como Benjamin Franklin ou Leonardo Da Vinci? Guardadas as devidas proporções e levando em consideração o contexto de cada país .. não. Será que Machado de Assis "fica devendo" para os grandes nomes da literatura mundial?
A crítica e contestação generalizada á alguns nomes, sem que outros sejam apontados como alternativa, também é bastante sintomática: podemos até não concordar com certos nomes, mas somos relativamente incapazes de apontar outros, "melhores". Por que será?
No fim, a lista brasileira dos "Melhores de Todos os Tempos" é tão boa ou ruim como a de qualquer outro lugar. Nem melhor, nem pior. É só uma lista.
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