28 de set. de 2011

EDITORIAL: OS LIMITES DO HUMOR


A cada piada “polêmica”, a cada fala que “pega mal”, volta à pauta a discussão de limites para o humor. Jornalistas, intelectuais e sabichões de plantão tomam os sites, blogs e jornais com o intuito de julgar, separar o que pode ser considerado como “humor do bem” e “humor do mal”. Para além das discussões de bem e mal ou de politicamente correto ou incorreto, se faz necessário tecer alguns apontamentos.

Num Estado Democrático de Direitos, como o Brasil é (apesar dos pesares), para cada direito corresponde um dever. Ou seja, para o direito de liberdade de expressão e opinião, corresponde o direito de responder, inclusive perante a justiça, sobre suas declarações. Foi justamente o que aconteceu com Rafinha Bastos após ter feito piadas que supostamente incentivavam a prática do estupro. Pois bem. Se o humorista responde por suas declarações e se coloca a disposição para fazer qualquer esclarecimento à respeito de suas piadas, onde está a falta de ética ou a prática política incorreta? Difícil dizer.

O que talvez esteja por trás destas polêmicas é a enorme dificuldade que o brasileiro tem de rir de temas espinhosos e principalmente, de encarar a comédia e o humor como formas de critica e reflexão social. Por mais doloroso que possa ser, os norte-americanos não se negam a abordar os acontecimentos de 11 de Setembro em suas sátiras e shows de comédia, justamente porque enxergam no humor ácido e politizado uma instância de crítica legitima à forma como os políticos responderam ao ocorrido. E por que então o brasileiro prefere tornar estes temas tabus ao invés de encará-los de frente?

Pode se dizer que são vários os fatores que explicam isso. Eu diria que talvez o longo período de censura e de ausência de imprensa livre desacostumou a sociedade brasileira em geral à crítica. Paulo Francis, alguém considerado “polêmico”, costumava dizer que: “"Dizem que ofendo as pessoas. É um erro. Trato as pessoas como adultas. Critico-as. É tão incomum isso na nossa imprensa que as pessoas acham que é ofensa. Crítica não é raiva. É crítica”. Logo, talvez nossa idéia de politicamente correto seja perigosamente um sinônimo de politicamente aceito, ou seja, aquilo que não contrapõe, questiona ou critica. Eis ai uma grande questão: o que será mais perigoso para a sociedade, um humor que questiona, crítica e incomoda ou outro que apenas aceita, reproduz e aliena?
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