Um susto, um soco no estômago
Até aqui, todas as críticas que tomei conhecimento sobre a série de Maria Adelaide Amaral não foram positivas (Mauricio Stycer, Miguel Arcanjo Prado). Perimitam-me discordar.
Para os olhos de alguém que nasceu quando Dercy já havia completado 80 anos, como eu, é um choque tomar conhecimento de que, sem dúvidas, ela foi muito mais que apenas uma senhora "desbocada".
Pegue as improvisações em cena. Pegue os monólogos onde fala de sua vida e explora os temas da vida cotidiana. Ora, não é exatamente o que se faz hoje?
Não se trata de descobrir quem inventou o que. Isso é bobagem. Mas de perceber que o mundo não começa à partir de agora.
Este é um mal recorrente. A cada geração, a cada salto tecnólogico imagina-se que a história ganha um novo marco: antes e depois de hoje. Normal. Em se tratando da geração internet então .. normalissímo.
Contudo, uma série como esta vem justamente contrapor essa concepção. Fica muito claro que o"politicamente correto", por exemplo, não é um conceito tão novo assim e que muitos humoristas e comediantes vem tendo problemas neste "embate" à tempos. É assustador também perceber que a censura oficial não era assim tão diferente da não-oficial praticada hoje.
Gostei muito da série. Sobretudo, da atuação impecável de Heloisa Perrisé. Já Fafi Siqueira, embora divertida, talvez tenha carregado demais os traços da "imitação", o que acabava conferindo um ar de "caricatura" à personagem. Compreensível. Dercy era mesmo uma grande caricatura.
Direção, roteiro, fotografia, cenografia e figurino não foram primorosos, mas também não comprometeram.
Talvez valeria á pena ter explorado um pouco mais outras histórias (que sem dúvidas são muitas) em mais alguns episódios. No total, oito ao invés de quatro estaria de bom tamanho.
De qualquer forma: foi uma justa e merecida homenagem. Repara, em partes, um absurdo histórico sedimentado durante muito tempo.
Dercy foi muito mais que uma velhinha desbocada.
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