13 de dez. de 2011

Qual é o problema em dizer que “Tapas & Beijos” é para a classe C?

Mauricio Stycer - UOL Blogosfera


Um dos programas mais bem-sucedidos da Globo em 2011, a série “Tapas & Beijos” tem obtido índices de audiência muito bons e está garantida na grade da emissora em 2012. Com texto de Claudio Paiva, o programa é dirigido por Maurício Farias, cujo currículo inclui uma longa passagem por “A Grande Família” e a responsabilidade, no ano que vem, de dirigir o novo “Casseta & Planeta”.

Questionado pela “Folha” neste domingo se o sucesso de “Tapas & Beijos” está relacionado à busca das TVs pela audiência da classe C, Farias respondeu: “Esse é um discurso falso. É um tipo de humor que fala com todos.” Posso estar enganado, mas senti uma ponta de preconceito nesta declaração.

O crescimento da classe C no Brasil, ocorrido na última década, é um tema que interessa muito a todas as mídias. Em 1992, 35% dos brasileiros pertenciam à classe C. Hoje, são cerca de 51%, ou 95 milhões de pessoas. Alguns dados mostram que o poder de compra desta nova classe média já é igual ou superior aos das classes A e B somadas.

TV aberta é popular por definição. Sempre foi. Mas é evidente que esta nova configuração socioeconômica afeta a programação. Seria burrice ignorar este público que ascendeu socialmente nos últimos anos. E “Tapas & Beijos” parece ter sido pensado exatamente com este objetivo.

Realizar um programa de humor que “fala com todos”, como diz Farias (no centro da foto, com o elenco da série), é uma ambição justa, mas impossível de alcançar. A meta é, sim, fisgar o público majoritário da TV aberta, ou seja, as classes C, D e E, em especial aquela parcela com poder de compra.

As inúmeras mudanças ocorridas na grade da Globo nestes últimos anos, incluindo a suspensão do “Casseta & Planeta” e o cancelamento de “Junto e Misturado”, comprovam isso claramente. O primeiro perdeu audiência, ou seja, ficou menos popular, e o segundo foi considerado “elitista”.

Em tempo: O primeiro episódio de “Tapas & Beijos”, exibido em abril deste ano, não me causou grande impressão. Em texto que escrevi para a “Folha” na ocasião, classifiquei a série como regular e fiz reparos à escalação de Fernanda Torres e Andrea Beltrão como protagonistas. “O público ainda guarda muito presente lembranças das duas em outras séries cômicas, ‘Os Normais’ e ‘A Grande Família’, e tende a ver, ainda que sem razão, repetição em cena”, escrevi. Hoje, depois de ver muitos episódios, não tenho problemas em dizer que mudei de opinião. Acho a série muito divertida, com texto criativo, ótimo elenco, incluindo as duas atrizes principais, que deram cor e vida própria às suas personagens.

[COMENTÁRIOS: Concordo e discordo. Discordo que tenha havido algum tipo de preconceito por parte do diretor. Sinceramente, acho que ele só quis evitar que a série fosse rotulada posteriormente como humor deste ou daquele tipo, voltado para X, Y ou Z. Discriminar é justamente restringir à este ou aquele público, algo que ele procurou não fazer. Por outro lado, concordo que existe sim no Brasil o chamado "Mito do Humor Inteligente" que seria aquele voltado para as classes A e B, mais erudizadas e de melhor repertório. Mas isso rende um texto à parte.]
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