3 de jan. de 2012

CRÍTICA: Mulheres Ricas ... e fúteis


Lembro-me que há não muito tempo atrás, quando este que vos escreve ainda era universitário , ouvi numa destas aulas de Laboratório de Pesquisa (ou coisa parecida) a avaliação de uma querida mestra que tem bastante haver com o tema da critica de hoje. Dizia ela: “Nós enquanto sociólogos e antropólogos temos uma forte inclinação a nos interessar por temas ligados aos desfavorecidos, prejudicados, esquecidos, discriminados. E é bom que seja assim. Mas por outro lado, não sabemos quase nada sobre como vivem os ricos e milionários. Não conheço nenhuma pesquisa séria á respeito. Talvez tenha alguma coisa na publicidade, mas é diferente. Quem sabe algum de vocês se interessa”.

Quando assisti “Mulheres Ricas” ontem à noite lembrei-me imediatamente desta passagem. Assim, pude sacar que grande chance a Band esta tendo de fazer algo bacana, relevante, interessante e, até certo ponto, inédito. Chance que está perdendo, diga-se de passagem.

Não há muito que acrescentar ás brilhantes análises dos colegas Mauricio Stycer e Tony Góes (e também ao Renato Kramer que publicou há pouco uma nota sobre), mas minha sugestão é que talvez valesse á pena adicionar um adjetivo ao título do programa: Mulheres Ricas & Fúteis.

A pergunta que me fiz durante todo o tempo em que me embasbacava com os delírios de Val, Narcisa & Cia era: será que toda mulher milionária vive assim? Suponho que não.

Certamente nem toda mulher rica tem como única preocupação torrar o dinheiro do marido ou da família. Quantas empresárias, executivas, artistas, enfim .. quantas profissionais bem sucedidas olharam para aquilo e não se reconheceram? Pois é. O pior do programa é justamente isto: transmitir a imagem de que mulheres não são capazes de ser tão racionais, disciplinadas, equilibradas quanto ... um homem. É só reparar que papel os maridos e namorados desempenham na série.

Soa machista? E é.

Breve comparação: no domingo, Sonia Bridi entrevistou Eike Batista – o homem mais rico do Brasil - para o Fantástico. O tema: projetos futuros, investimentos em educação, história de sucesso pessoal, empreendedorismo. Por que um programa que fala de mulheres bem sucedidas não pode abordar estes temas? Claro que a televisão precisa de polêmica, de exagero .. ok. Mas quem vê a atração sai com a terrível impressão de que mulheres não sabem fazer outra coisa com seu dinheiro se não gastar.

Por isso acho que seria mais honesto que o programa se chamasse “Mulheres Ricas & Fúteis”. Aliás .. melhor seria que se chamasse apenas "Mulheres Fúteis", já que de ricas estas mulheres só tem a carência afetiva, a frivolidade e a necessidade de auto-afirmação (além de uma pitada de arrivismo social no caso de Valdirene Marchiori). Assim, o telespectador estaria bastante seguro daquilo que iria assistir. E melhor, não se alimentaria ainda mais esse mito, essa crença de que mulheres não são tão competentes quanto homens. Pior, que são dependentes.

Fútil, clichê, caricato, estereotipado. Não acrescenta nada à ninguém. Pena. A idéia ao começo me parecia muito boa. Mas vale lembrar que o nome do programa não é “Mulheres Independentes”.

Um comentário:

  1. O programa é ridículo, e depois descobri que a Valdirene do Frango é golpista conhecida , leia : http://www.jornalportaldoparana.com.br/imprimir2.php?nt=15310 . Alguem avisa a veja e a contigo , por favor?

    ResponderExcluir

Related Posts Plugin for WordPress, Blogger...