26 de nov. de 2011

Nunca mais pisarei num palco, diz ator do "Pânico" que criticou público

FOLHA GUIA - TEATRO


É a última vez que Eduardo Sterblitch sobe ao palco com "Minhas Sinceras Desculpas". Na próxima segunda-feira (28), o ator do programa "Pânico na TV" (que interpreta Freddie Mercury Prateado e César Polvilho) põe fim à comédia que já levou milhares de pessoas ao teatro --a sessão ocorre no Citibank Hall (zona sul de SP), às 21h30. "Nunca mais pisarei num palco como ator", diz em entrevista ao Guia. "Fiquei triste com o teatro, com a não eficiência dele."

Na conversa abaixo, feita por e-mail, o ator fala sobre o que aprendeu com esse projeto ("que a grande média da população é burra"), sobre a reação às declarações polêmicas e sobre o porquê de ver a última sessão de sua peça (que terá participação do cantor Belo).

Guia Folha - Não tem a menor chance de você voltar com essa sua peça algum dia?

Eduardo Sterblitch - Não. Não tem a menor chance. Desde o prelúdio eu já sabia que essa peça tinha prazo de validade. Eu sempre tive a noção de que o público não a compreenderia. Mas fiquei triste com o teatro. Fiquei triste com a não eficiência dele. Triste em perceber que o público não quer teatro. Em ver a forma errada com que a maioria consome teatro hoje em dia. Leia bem: a maioria.

Cada projeto nos ensina algo. O que você aprendeu com esse?

Aprendi o que já era óbvio. A grande média da população é burra. Ignorante. A grande maioria é hipócrita e católica. Não que isso seja um erro. No entanto, um desavanço. Façam suas contas: um jovem prefere ir a uma peça de teatro ou a uma micareta? Pois é. De mil, cinco preferem ir ao teatro. Lembrando que "stand-up" não é teatro... Bem, e é exatamente para esses cinco que eu fazia minha peça. E isso era tão engraçado. Enquanto a maioria das pessoas riam feito hienas ou compravam aquele circo pobre cheio de simbolismo besta, as cinco permaneciam em silêncio, atentas e rindo de canto de boca. Entendendo perfeitamente o que estava pretendendo-se ali em cima do palco... Isso era realmente magnífico!


Depois que anunciou o fim e disse estar decepcionado com o teatro, o que você mais ouviu das pessoas? Apoio ou reprovação?

Eu pedi desculpas no título... Quando escrevi a peça, pensei na reação. Quis provocar a crítica local de cada cidade que passei. As pessoas... Por que provocar? Por que eu sou um estudioso de teatro. É bem provável que eu conheça mais sobre teatro do que a maioria dos professores de teatro no Brasil. Mesmo tendo 24 anos. Eu sei teatro. E foi impressionante a reação dos "críticos" espalhados pelo país. Uns falavam exatamente o que a minha peça falava. Outros se enrolavam demais, a maioria simplesmente dava uma opinião ingênua e infantilóide... As pessoas que me reprovam são as mesmas que reprovaram Antonin Artaud e o fizeram tomar choque. E ainda reprovaram Nietzsche, Van Gogh, Nerval...

Se o público, em sua maioria, não está nem aí pro teatro, como você mesmo disse, como reverter isso para atrair gente para um futuro espetáculo?

Meu papel não é reverter nada. Não tenho esse poder e nem possibilidades. Veja bem... as únicas pessoas que amam teatro no Brasil são as pessoas que trabalham com teatro. A grande média restante que não liga. Não importando se a sua peça é boa ou ruim! Basta estar na televisão e fazer qualquer coisa que o teatro se abarrotará! E isso é ridículo... não quero reverter. Veja o caso da quantidade de pessoas que comentam aqui embaixo. Elas repetem a mesma coisa, e ninguém se pronuncia logicamente a favor ou contra. Exatamente igual aos críticos e ao público que acha minha peça ruim. Enquanto isso, os blogs de fofoca continuam a se reproduzir igual praga. Por isso parei.

Por que vale a pena ver essa última sessão de "Minhas Sinceras Desculpas"?

Para ver algo morrer, algo morrendo. A morte é sempre um belo espetáculo.

Já pensa em fazer alguma outra peça?

Nunca mais pisarei num palco de teatro como ator.

Você costuma ir ao teatro ver outros espetáculos? Algum em cartaz pra indicar?

Gostaria que fossem assistir a "Viver Sem Tempos Mortos", protagonizado pela Fernanda Montenegro. Se os jovens artistas se arriscassem como ela, estaríamos bem! Sem mais. Cansei... Agora comentem minha entrevista boba, igual sempre... igual mosca.

[COMENTÁRIO: Cara .. juro que ainda não entendi esse misto de depressão, arrogância, insatisfação e estrelismo do Eduardo. Tudo bem que, de fato, o público brasileiro não é dos mais habituados e afeitos à teatro, muito menos à monólogos. Há uma certa razão na crítica, sem dúvidas. Mas não soa meio ridículo o cara chamar o público de mediocre e burro e depois sair de carro importado, para um apartamento confortável e bem localizado, ambos pagos graças à este mesmo público que ele agora despreza? Sei lá .. E outra. Já passou pela cabeça dele que, talvez, o espetáculo seja ruim? Há uma certa diferença entre não entender ou simplesmente .. não gostar; nem todo mundo que não gostou necessáriamente não entendeu .. certo?

E só ressaltando este trecho: "É bem provável que eu conheça mais sobre teatro do que a maioria dos professores de teatro no Brasil. (..) As pessoas que me reprovam são as mesmas que reprovaram Antonin Artaud e o fizeram tomar choque. E ainda reprovaram Nietzsche, Van Gogh, Nerval..."

MENOS NÉ? BEEEM MENOS ...
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