17 de ago. de 2011

MACHISMO

Vira e mexe o Programa Pânico é rotulado, mais um vez, de machista, sexista: algo certamente aguardado e previsível, em se tratando de um programa que exibe um incontável número de bundas, decotes e pernas femininas … mas raríssimos bíceps, peitorais ou abdomens masculinos. Poderíamos nos delongar em um extensa e detalhada discussão sobre o papel do corpo feminino na mídia, na propaganda e na televisão brasileira e mundial, bem como numa ainda mais extensa e pormenorizada análise do assim chamado “machismo” presente nestas veiculações e na vida cotidiana como um todo. Não o faremos (ufa!). Neste nota tentarei resgatar e organizar alguns elementos que ficaram aparentemente perdidos ou não percebidos em acontecimentos recentes do programa.

Sacanear os membros da trupe usando seus familiares não é novidade no Programa Panico: quem não se lembra da visita das mães dos apresentadores ao Clube das Mulheres no Dia das Mães em 2007 ou do passeio das mulheres dos apresentadores, ao mesmo clube, no Dia dos Namorados em 2009? Pois é. Você não se lembra, mas isso já aconteceu. E o mais engraçado é que, a despeito da “maior gravidade” das armações anteriores, até então inéditas, nenhuma delas trouxe à tona tantas questões como a última: a ida das mulheres dos apresentadores à Feira Erótica no último Dia das Mães.

Embora não se saiba ao certo se trata-se de uma armação combinada ou de “pagadinha real”, ficou público e notório que a ultima brincadeira provocou reações distintas das anteriores. Como explicar por exemplo que as mesmas Marcela Maluf e Gabriela Baptista tenham sido levadas pela mesma Sabrina Sato à um evento “atípico” dois anos atrás, sem atrair no entanto nenhuma atenção? O mais desconfiado sentiria o cheiro de armação, busca pura e simples de audiência às custas de uma falsa polêmica. O mais perspicaz, no entanto, talvez enxergue um elemento novo que talvez tenha mexido um pouco com as peças do tabuleiro, e por isso, mudado as estratégias do jogo.

De fato, nos eventos anteriores, não me recordo de ter havido a “invasão” das esposas ou mães ao palco, da mesma forma que, pelas reações relativamente positivas, é possível que os apresentadores soubessem de antemão, ao menos, que alguma brincadeira havia sido feita. A perfeição da última armação que contava até mesmo com um “espelho” falso (lista com a ordem das atrações), pode indicar maior sigilo e sofisticação da brincadeira. É possível mesmo que os apresentadores não soubessem de nada. Ou então … atuaram muito bem, já que as feições e reações eram mesmo de absoluta surpresa. Da mesma forma, não me recordo de ter sido empregada a expressão “machismo” tantas vezes quanto no último evento, assim como palavras de ordem como “direitos iguais”. O questionamento mais incisivo e direito quanto as práticas e atitudes dos humoristas durante as matérias do programa não havia sido a tônica das outras “homenagens”, enquanto desta vez estava bem configurado. A sensação de desconforto e mesmo de uma certa “quebra de hierarquia” era evidente. Algo estava fora lugar.

A vingança mais óbvia neste caso seria voltar o alvo das ações para Sabrina Sato e seu relacionamento difícil com o Deputado Federal Fábio Faria. Mas não foi isso que se viu. O primeiro alvo da “vingança” foi Wellington Muniz, o Ceará, numa rápida e (supostamente montada) novela sobre seu possível relacionamento com Mirela Santos (ex-Latino). Mas após isso, para surpresa geral, entram em cena as namoradas de Rodrigo Scarpa e Daniel Zukerman no reality “Fama ou Fogão”. A primeira e óbvia pergunta é: por que elas e não as outras belas cônjuges? Não se sabe, mas pouco importa. Fato é que ao intitular o quadro de Fama ou Fogão”, o Pânico assumiu abertamente a discussão de gênero e machismo no programa, algo talvez não inédito (já que no personagem da mulher Samambaia estava contida uma certa critica ao papel das gostosas nos programas de TV, por exemplo), mas que nunca havia atingido os humoristas, as famílias e seu oficio. Não sabemos se as “trocas de farpas” entre Emílio Surita e Sabrina Salto no palco, ao vivo, teriam sido armadas ou não. Mas presumindo que não foram (ou que foram parcialmente combinados, como uma brincadeira que saiu do controle – o que é possível), estavam ali lançados todos os elementos que viriam a compor o conteúdo deste novo “reality”: por que as mulheres dos apresentadores não podem agir da mesma forma que seus maridos o fazem?

Num lance incontestavelmente genial, os maridos invertem o jogo, oferecendo ás suas mulheres (duas delas, ao menos) a oportunidade de efetivamente desempenharem as mesmas funções que os apresentadores. Talvez ai fique mais claro o porque da escolha de ambdas: Gabi e Mamá são as mais tímidas. O fato é que, mais uma vez, através de uma forma muito própria, perspicaz, polêmica e sútil, o Pânico abre um debate mais sério e amplo em plena rede nacional, em pleno programa de “humor”: qual papel as mulheres verdadeiramente querem para si? Será que não se atribui ao machismo e à dominação masculina (ambos verdadeiros) a culpa pela própria incapacidade de romper com limites e medos? Será que as próprias mulheres não são “machistas”? Será que é ruim, menor ou negativo dedicar-se apenas à afazeres domésticos e familiares? Será que a fama é para todos? Será que ser famoso é tão fácil e bom como se pensa? Será que mostrar o corpo em rede nacional (como elas certamente teriam de fazer) é algo assim tão simples e tranquilo quanto às panicats fazem parecer? São muitas perguntas que ficam no ar, literalmente.

Mais uma novela se inicia e como sempre seu desfecho é imprevisível. Não me surpreenderia se as belas meninas aceitassem fazer algumas matérias à contragosto dos maridos, ou ainda se refugassem e recusassem a proposta. Não me surpreenderia nem mesmo se por ventura se tratar da mais total armação: desde o começo no programa do Dia das Mães até o último capítulo do reality. O que de fato importa são as discussões que o programa enseja a partir de suas pautas. Sem a pretensão de ser professoral ou explanativo, o Pânico reiteradamente tem aberto espaço para discussões das mais valiosas: desde o papel das mulheres em nossa sociedade até o combate as drogas, passando pela politica, pela violência e pela pobreza; sem no entanto perder sua marca fundamental: o humor e a espontaneidade. Bundas, peitos e pernas são o “duro” preço que se paga para uma “aula” de uma pedagogia de tipo muito especifico e diferente: é o jeito Pânico de falar sério.

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