17 de ago. de 2011

UM PRESENTE DE GREGO: DUAS TCHECAS “DO PARAGUAI”


Como já salientei em outras oportunidades, não conheço outro programa no ar atualmente na TV brasileira que tenha a capacidade de experimentação e variação do “Pânico na TV”. As vezes pode dar certo, as vezes nem tanto, mas o que de fato importa é que essa dinâmica constante e permanente de inovação é sem dúvida um dos grandes “pulos do gato” da atração.
 
Há tempos venho falando também que o “Pânico” rompeu a fronteira dos programas humorísticos stricto sensu. Na verdade as coberturas de eventos esportivos, festas, premiações, entre outras pautas de acontecimentos do cotidiano conferem ao Pânico um certo “que” de revista eletrônica semanal. Mas do que isso: de tempos em tempos o programa convida seus telespectadores a discutir e refletir sobre temas como politica, uso de drogas, pobreza, moradia precária, entre outros; por vezes de forma mais sútil, em outras de forma mais concreta. Foi assim no “Caso Zina”, no “Gorete quer ser Gisele” e permanece desta forma nas coberturas eleitorais e nas pautas no Congresso Nacional.

Mas como um Programa de TV, pretensamente de humor, poderia então abordar questões sérias como estas sem “perder a graça”? Difícil, mas não impossível. A melhor prova disto, sem dúvidas, foi a série intitulada “Tchecas do Brasil” que discreta e despretensiosamente se pôs a discutir infra-estrutura e preparativos técnicos do Brasil e dos brasileiros para os grandes eventos desportivos de 2014 e 2016. Definitivamente não é pouca coisa, mas o Pânico encarou o desafio .. e no seu melhor estilo: com muitos closes de bunda e piadas de duplo sentido. Essa é uma questão fundamental à ser pontuada: tenho a sensação de que muitos críticos se perdem entre os biquínis e as piadas sacanas e não conseguem chegar à mensagem, à proposta de matérias como esta. O Pânico tem uma forma muito própria e peculiar de ver, entender e apresentar as coisas (o que venho chamando de Linguagem Pânico) e é por meio deste prisma que as pautas ganham vida. É isso que seu público espera e não uma aula de exposição. O Pânico tem a incrível capacidade de discutir assuntos sisudos de forma divertida, sensual .. diferente. É quase como um professor de cursinho .. de biquíni.

Tudo muito bom, tudo muito bem. Mas as tchecas, de tchecas não tinham nada. Era tudo falso, parte da estratégia de lançamento de uma nova cerveja. A primeira pergunta que eu e milhões de brasileiros nos fizemos foi: será? Armações contra o público e com a imprensa não são propriamente algo incomum para o Pânico. Muitas vezes os flagras e pegadinhas entre os membros do elenco deixam o telespectador em dúvida: “não parece armação”? Certamente, muitas vezes foi. Em outros episódios … talvez não. O ponto é que da mesma forma que os corpos esculturais de Michaela e Dominika (ou Michaela e Alicia, como queiram) não desvirtuam o carácter construtivo e engajado da série, o fato das mesmas serem personagens de uma campanha e não garotas tchecas querendo conhecer o Brasil, também não invalida o belo trabalho da equipe do programa na edição, roteiro e logística de um “reality” que percorreu grandes capitais brasileiras em busca de respostas para uma pergunta simples: estamos preparados para os grandes eventos que virão?

Infelizmente o desfecho bizarro dos acontecimentos não permitiu que o programa realizasse um balanço sobre tudo o que as gringas viram e vivenciaram no Brasil, algo que aparentemente estava previsto para o último capítulo. Por questões contratuais com seu patrocinador o Pânico parece ter preferido silenciar-se sobre a polêmica afim de não aumentar ainda mais a repercussão do caso: tudo aliás que a cervejaria mecenas do embuste deseja. Mas fica ai o exemplo de como um programa de humor pode abordar questões sérias de forma divertida, sem ser excessivamente didático e tão pouco superficial. 

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