18 de ago. de 2011

Humor sarcástico gera polêmica, mas dá audiência; entenda o por quê

KÁTIA DEUTNER*
Colaboração para o UOL


Em tempos do politicamente correto, debochar de determinados grupos ou situações delicadas pode causar polêmica, gerar processos e até arruinar a carreira de humoristas que se utilizam de episódios do cotidiano para criar piadas. A “invasão” do funeral da cantora Amy Winehouse pelos humoristas do “Pânico na TV”, por exemplo, foi uma “escolha” que dividiu opiniões. Para uns tratava-se de mais uma peripécia dos personagens do programa, para outros, foi uma falta de respeito sem precedentes. Já os humoristas Danilo Gentili e Rafinha Bastos, do "CQC", costumam protagonizar histórias que provocam reações inflamadas. Gentili foi rechaçado quando associou a imagem do gorila King Kong ao estilo de vida de jogadores de futebol. Já Bastos não teve a mesma “sorte”: além de alvo de críticas, passou a ser investigado por apologia ao crime, depois de ter feito piadas sobre estupro durante um show de comédia.
 
“O gosto pelo grotesco sempre existiu na cultura ocidental e há um segmento da sociedade que se diverte com situações constrangedoras”, diz a antropóloga Zilda Knoploch, CEO da Enfoque Pesquisa de Marketing (SP). "Podemos dizer que as cenas são um reflexo do inconsciente coletivo e, por isso, fazem sucesso. A audiência é prova de que o público se identifica com a proposta e a mensagem destes programas. Hoje, mais do que nunca, há opções e o controle remoto é poderoso”, afirma ela, que é especialista em pesquisa de mercado.
Para o humorista Chico Anysio, o humor não tem limites. "Quem impõe o limite é o humorista, de acordo com a sua moral e o seu caráter. A vida inteira fiz personagens judeus, negros e gays. Sempre trabalhei com todos esses assuntos e não tive problema com ninguém, porque o importante é a forma como você os aborda. Tem que ter respeito”, diz Chico. “Fiz vários gays e não era um trabalho discriminativo."

Humilhar, brincar com assuntos sérios, fazer as pessoas passarem por condições desumanas e até mesmo se machucarem são alguns dos artifícios. Mas a boa audiência não significa aprovação das pessoas para tais atitudes, segundo o psicólogo Jacob Goldberg, de São Paulo. “A exploração do sofrimento alheio causa a mobilização de sentimentos sadomasoquistas. O fato desperta atenção e curiosidade. O humor covarde é um apelo aos instintos mais primitivos de perversão. Fazer rir da caricatura da mulher, do homossexual, do judeu e do pobre é fácil. Difícil seria a ‘pegadinha’ com banqueiros e militares”, diz.

Exemplo na TV
 
O poder didático da televisão é inegável. Capta recursos volumosos para ações sociais, faz ídolos e pode destruí-los. “As famílias devem filtrar o acesso de menores de idade a este tipo de programação até que tenham discernimento e maturidade para perceber que não é um modelo a ser seguido”, diz Zilda Knoploch.

Para o psicólogo Jacob Golberg crueldade é educar crianças para servirem a padrões desumanos de comportamento. “Pesquisas já comprovaram que crianças negras, pobres, obesas têm complexo de inferioridade exatamente por serem vítimas desta cultura avacalhada, que, indiretamente, privilegia os modelos de dominação, rica, branca e arrogante. Este humor fascista não coincide com os direitos humanos de uma sociedade psicologicamente madura."


0 comentários:

Postar um comentário

Related Posts Plugin for WordPress, Blogger...