29 de nov. de 2011

Em entrevista promocional de 50 minutos com Boni, Jô não lembra da briga feia que tiveram

Mauricio Stycer - Blogosfera


Jô Soares é tema de um capítulo de “O Livro do Boni”, chamado “Viva o Jô!”. O texto ocupa cinco das 464 páginas da recém-lançada autobiografia de José Bonifácio de Oliveira Sobrinho, o executivo que por mais de 30 anos ajudou a determinar os rumos da Rede Globo.

Boni conta como conheceu Jô, em 1960, como o tirou da Record, no final de 1969, e descreve o sucesso dos programas que ajudou o humorista a fazer na Globo (“Faça Humor, Não Faça a Guerra”, “Satiricon”, “Planeta dos Homens” e “Viva o Gordo”).

Na última página, Boni fala da saída de Jô em direção ao SBT, no final de 1987, para apresentar um talk-show e o seu programa de humor. “Fiquei magoadíssimo com o Jô e com o Max Nunes (redator dos programas do humorista) porque, além de não querer perdê-los, tinha com eles uma profunda relação de amizade e me senti traído. Gritei, fiz ameaças, mas prevaleceu o carinho que sempre tive pelos dois”, escreve Boni.

Ao receber o Troféu Imprensa das mãos de Silvio Santos, em 1988, Jô falou destas “ameaças” citadas por Boni no livro. Na ocasião, ele leu um texto que havia publicado dias antes no “Jornal do Brasil”, no qual acusava a Globo de ter feito uma “lista negra”, que incluía os seus principais colaboradores. É um texto forte e duro não apenas com a Globo como também com Boni, o seu principal executivo.

“Quem sair da emissora sem ter sido mandado embora corre o risco de não poder mais trabalhar em comerciais sob a ameaça que estes lá não serão veiculados”, disse Jô.

“Que as chamadas do ‘Gordo ao Vivo’ (espetáculo que apresentava então no Rio) não passariam na emissora eu já sabia desde outubro pelo próprio Boni, que me disse, em sua sala, quando fui me despedir: ‘Já mandei tirar todos os seus comerciais do ar. Chamadas do seu novo show no Scala 2 também esquece. Estou vendo como te proibir de usar a palavra ‘gordo’. Claro que esta última ameaça ficou meio difícil de cumprir. A megalomania ainda não é lei fora da Globo”, prosseguiu.

E completou: “Finalmente eu gostaria de dizer que Silvio Santos foi tremendamente injusto quando chamou Boni, numa entrevista, de ‘office-boy de luxo’. Nenhum office-boy consegue guardar tanto rancor no coração”.

Em 2000, três anos depois da saída de Boni do comando da Globo, Jô voltou a trabalhar na emissora, então sob a direção de Marluce Dias da Silva, e levou para lá o seu programa de entrevistas, que apresenta até hoje.

Como todos sabem, Boni e seu livro foram o tema de dois blocos do “Programa do Jô” nesta segunda-feira. O executivo contou muitas histórias, foi paparicado por Jô de todas as maneiras, e retribuiu com inúmeros elogios ao apresentador.

Curiosamente, o assunto mais picante, a briga dos dois, citada por Boni em seu livro, não foi mencionado em nenhum dos 50 minutos da entrevista. Como tem ocorrido com frequência cada vez maior, a entrevista serviu a um propósito puramente promocional. Uma chatice só, que poderia ter sido ao menos atenuada se o entrevistador quisesse.

[COMENTÁRIO: Não tem nem muito o que comentar depois da bela análise do Mauricio. No Roda Viva, dias atrás, Jô disse que quando se começa à impôr limites ao humor , acaba-se ficando conservador. Ora, mas por estas e outras entrevistas "chapa branca" (tomando de empréstimo a expressão do Stycer) não é justamente o que está acontecendo, Jô? Será que o Jô de hoje teria a coragem de trocar de emissora e denunciar as tentativas de censura e represálias dos antigos chefes? É a pergunta que fica.]
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