Por FABIANA SERAGUSA no F5 Folha
Sempre que Eduardo Sterblitch traz sua peça a São Paulo os ingressos se esgotam. Mas ele está feliz? Não. O ator, que interpreta o Freddie Mercury Prateado no programa "Pânico" (RedeTV), sabe que todo mundo vai lá só para ver o "moço da TV", que ri de qualquer coisa e não está nem aí pra nada.
"Teatro não tem mais importância, principalmente para os jovens. Não adianta. Teatro só é importante para velhos ranzinzas", diz Sterblitch à Folha, ao contar que desistiu de fazer sua peça "Minhas Sinceras Desculpas".
"Na verdade, o burro sou eu. O público de teatro quer assistir à televisão. Por isso não farei mais a peça. Desisti", revela.
"Além disso, é uma pena ver amigos jovens dessa área que não têm oportunidade nenhuma. Que se matam de estudar teatro para perderem o papel para a Thaila Ayala."
As últimas sessões ocorrem no Citibank Hall (zona sul de São Paulo), onde a comédia está em cartaz às segundas-feiras, até 28 de novembro.
Durante as apresentações, o ator chega a dizer isso tudo em cena, que o público só está lá para ver os personagens do "Pânico", que não entende o que é bom ou ruim e que, por isso, acaba sendo tudo em vão.
Abaixo, leia a conversa com Eduardo Sterblitch:
Guia Folha - Na peça, tem algum "fundo de brincadeira" quando você diz que o público que foi lá ver seu show é burro?
Eduardo Sterblitch - Não. Na verdade, o burro sou eu. Aprendo isso diariamente. Aprendo que realmente não sou suficiente como artista. O público de teatro quer assistir à televisão. No entanto, o público não precisa se provar como público. Por isso não farei mais a peça. Desisti.
Alguém já se ofendeu, te xingou ou reclamou, de alguma forma?
As pessoas são educadas. Nunca me destrataram durante a peça. Até porque a pessoa que acredita em uma peça de teatro não merece estar em um teatro. Minha intenção era fazer isso, talvez. Mas não dá. Não importa pra ninguém. Ninguém se importa mais com nada.
Mas tem alguma maneira de fazer o público dar valor ao que é realmente bom ou nem adianta?
Não. O público nem sequer pensa nisso. Os serviços de mídia, jornalistas, ninguém se preocupa. Como eu disse, as pessoas não estão preocupadas em assistir à minha peça. Estão preocupadas em ver de perto o cara da televisão e, quem sabe, tirar uma foto. Teatro não tem mais importância. Principalmente para os jovens. Não adianta. Todos querem se divertir. Teatro só é importante para velhos ranzinzas. Essa minha peça me provou a não importância dela, de se realizar algo e da falta de conhecimento do público com o teatro. As pessoas consomem teatro errado. Além disso, é uma pena ver amigos jovens dessa área que não têm oportunidade nenhuma. Que se matam de estudar teatro para perderem o papel para a Thaila Ayala.
Tem alguma comédia teatral em cartaz que você indicaria, que você acha que vale a pena?
Eu indico continuar vendo televisão. É mais confortável, fácil... ou assistir a "stand-up comedy". É engraçado, agradável...
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[MEU COMENTÁRIO: O Eduardo é um grande ator .. isso é fato. Mas talvez esteja ai a grande questão: há uma sensível diferença entre atores que fazem comédia e humoristas de profissão. O Carioca não é ator. Ceará, Vesgo, Emílio .. idem. Nem faz a linha do Pânico um humor de muito "conteúdo". Talvez os limites do Pânico estejam ficando pequenos demais para ele, como já ficaram anteriormente para Paulinho Serra, Fábio Rabin ... se bem que este episódio me parece mais uma crise (chilique) existencial, do que própriamente descontentamento com o Pânico. Mas quando você se sente sub-aproveitado, descontente com o seu trabalho .. o que você faz? Muda. Pois é. É bom lembrar que Rabin e Serra, logo depois de sair do Pânico, se juntatam à trupe de Adnet e Bento Ribeiro (atores de oficio) para formar o Comédia MTV, programa que faz uma linha bem diferente do Pânico ...
... contudo, chamar o público de "burro" já é um pouquinho demais, não? É esse público "burro" que paga seu aluguel e a prestação da BMW queridão. Cuidado!]
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