Problemas causados por piadas sempre acontecem. Mas nunca, como em 2011, a arte de fazer rir provocou tantas discussões, reações violentas, processos judiciais, demissões e linchamentos virtuais.
O levantamento com as piadas que desandaram ao longo do ano mostra, em primeiro lugar, que poucos escaparam da fúria do público. Do “CQC” ao “Pânico”, passando por “Comédia MTV”, “Legendários” e “Zorra Total”, os principais programas de humor da televisão foram palco de confusões.
Rafinha Bastos perdeu o emprego; Danilo Gentili teve que se retratar; Marcelo Adnet pediu desculpas; Márvio Lucio, o Carioca, foi rejeitado; Daniel Zuckerman, o “Impostor”, foi obrigado a inventar uma justificativa para as suas estripulias... Enfim, 2011 não foi fácil nem engraçado para ninguém quem vive de fazer humor.
Na tentativa de entender o que aconteceu, o UOL Entretenimento procurou os protagonistas do drama em que se transformou o humor em 2011. Nem todos quiseram falar, o que é compreensível pelas reações que provocaram. Em todo caso, com a ajuda de humoristas de duas gerações diferentes, é possível arriscar algumas explicações para o que aconteceu.
“É uma mudança a sociedade reclamar, se defender. Isso é bom”, observa Hubert, um dos integrantes do grupo “Casseta & Planeta”, que passou 2011 fora do ar, mas volta no ano que vem na Globo. “Hoje a sociedade consegue se organizar de forma muito mais fácil. Uma piada ofensiva, há 20 anos, ia gerar uma carta no jornal”, diz Marcelo Adnet, da MTV.
“O problema é quando pequenos grupos surgem como se fossem a voz da sociedade”, prossegue Hubert. “O fenômeno é que hoje existe uma certa ‘judicialização’ da sociedade brasileira que acaba interferindo na liberdade de expressão”, acredita Marcelo Madureira, também do “Casseta & Planeta”. “Você não acaba com o racismo ou com o preconceito por decreto”, defende ele.
Marcelo Adnet levanta outro ponto interessante. “O humor hoje é uma embalagem para tudo. O humor cresce, a importância dos humoristas cresce. Você leva mais a sério uma piada do que uma notícia. Viramos uma espécie de ombudsman da sociedade. Cresceu, ficou importante e gerou polêmica”, diz.
“Certas coisas não são nem humor, são apenas opinião”, concorda Hubert. Fabio Rabin, integrante da turma que faz o “Comédia MTV”, acrescenta uma questão: quanto mais gente fazendo humor, maior é a chance de ouvirmos piadas ruins.
“Quanto maior é a quantidade de maçãs no saco, maior a probabilidade de haver uma estragada. Diversos programas simplesmente pegaram humoristas que não têm ao menos um ano de palco e os colocaram em programas pífios que fundamentam-se em apenas copiar modelos antigos já testados e aprovados e que agora apenas são novamente reproduzidos de uma maneira mais tosca”, diz Rabin.
O problema principal da reação ao humor é tolher a criatividade, dizem todos os humoristas. “Humor é uma deformação. O humorista não tem responsabilidade nenhuma, a não ser fazer rir. Veio ao mundo para confundir”, diz Hubert.
“Quero ser respeitoso. Estou fazendo um trabalho para todo mundo ver. Mas não posso fazer um humor em cima do muro, acrítico”, pondera Adnet. “O pensamento deve vir de um bom senso que o acompanha ou não. Agora eu sinceramente não sei até que ponto o bom senso se torna uma chatice e simplesmente poda o humorista”, diz Rabin. “Banir um comediante por fazer uma piada é banir um lixeiro por pegar lixo nas ruas. Ele apenas estava fazendo o seu trabalho”, completa.
[COMENTÁRIO: Mais uma bela matéria do Stycer. Aliás, qualquer "retrospectiva" de 2011 deve mencionar o crescimento deste critico dentro da grade do UOL. Sempre com ótimas análises e, o mais importante, aberto à discutir e ouvir contrapontos. Uma craque! Em segundo lugar, não dá pra negar que os programas de humor foram os grandes destaques da tv brasileira este ano, seja para o bem ou para o mal. Com a quantidade de programas aumentando (hoje MTV, MIX TV, BAND, Gazeta, Rede TV, Record, Globo e SBT contam com humoristicos), era de se esperar que as polêmicas também crescessem. Na minha singela opinião, 2011 marca a consolidação, a entrada definitiva da geração "stand-up", do Novo Humor Brasil na TV. Digo definitiva, pois este foi um movimento que se iniciou em 2008 com o CQC e que tem crescido barbaramente. Com isso, o telespectador tem opções que vão do humor de improviso (Piadaria, Quinta Categoria) à esquete (Cilada, Comédia MTV, Os Impedidos); do tradicional (Zorra Total, Praça é Nossa) ao jornalistico (CQC). Do late show (Agora é Tarde) ao de variedades (Pânico na TV). Claro que nem tudo são flores. Sempre haverá uma piada que não pega bem, uma repercussão negativa. E o mais importante é que os humoristas estejam cientes e preparados nestas ocasiões: cientes de que erraram e preparados para se desculpar. Não importa o mérito da questão, ou seja, se de fato a piada foi ou boa ruim. Se alguém se sentiu ofendido ou discriminado ... "desculpas e vamos pra próxima", como diz Danilo Gentile. Acho que sim, a sociedade infelizmente leva o humor muito á sério. Mas sim, ela tem este direito. Por tanto, cabe à quem pretende se dedicar à esta arte compreender todos os seus meandros. E entender que quem bota cara em tv aberta/rede nacional adquire imensos poderes e imensas responsabilidades. Não dá pra ser amador. Nem de brincadeira ..]
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