Sábado foi ao ar a 600ª edição do "Zorra Total" (Globo). Mas a sensação é a de que o programa existe há uns 600 anos: o humor baseado em bordões, grosserias e mulheres gostosas deve ter chegado ao Brasil muito antes das caravelas de Cabral.
O "Zorra" é o avatar atual de um formato que já passou por várias mídias e nomes diferentes. Mas, nasceu oficalmente em 1999, num ano em que a Globo se sentiu ameaçada pela programação popularesca de outros canais e apertou o botão do pânico. Criado meio às pressas, reunindo atores dos mais diversos estilos, o humorístico passou dois meses nas noites de quinta antes de chegar ao sábado, onde fincou raízes.
Esses primeiros tempos tinham algumas atrações que hoje pareceriam estranhas, por escapar das fórmulas de apelo fácil. Mas quando chegou o diretor Maurício Sherman, nomes como Denise Fraga, Pedro Cardoso e Andréa Beltrão tiveram seus quadros "deportados" para o "Fantástico", ou simplesmente extintos. Desde então, a aposta sempre foi no mais baixo denominador comum.
O "Zorra Total" tem fama de ser dirigido às classes menos favorecidas, que não têm dinheiro para sair de casa num sábado à noite. Mas a verdade é que seus personagens de maior sucesso repercutem de A a Z, como é o caso da transexual Valéria Vasques, a queridinha do momento.
Valéria, assim como Lady Kate e Juninho Play, são exemplos de como a galeria de tipos do programa soube incorporar novos estereótipos sociais e se manter atual. Ao mesmo tempo, continuam no ar atores e personagens de mais de quarenta anos atrás.
Ofélia, por exemplo, surgiu na primeiríssima encarnação do "Balança Mas Não Cai", ainda na rádio Nacional, e chegou à TV no final dos anos 60. Criada pela sensacional Sonia Mamede, passou por Íris Bruzzi e agora está com Cláudia Rodrigues. Ao seu lado, o mesmo marido de sempre, Lúcio Mauro.
A própria concepção do programa parece congelada no tempo. O especial de sábado abriu com um número musical tão démodé que parecia ter saído diretamente do lendário "Times Square" da TV Excelsior. A diferença é que o "Times Square" era considerado um programa sofisticado.
Mas, dá para criticar? Os moderninhos do "Casseta & Planeta" saíram do ar, sentindo que estavam desgastados e precisando discutir a relação. O "Pânico na TV" enfrenta uma maré francamente desfavorável. O "CQC" tem um público restrito. Enquanto isto, o "Zorra" segue firme, e lançando todo ano ao menos uma expressão que entra para o vocabulário corrente. Vai durar mais alguns milênios.
http://f5.folha.uol.com.br/colunistas/tonygoes/959785-os-600-anos-do-zorra-total.shtml
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